16 de janeiro de 2013

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Assim nascem as mulheres



Namoradeira de Ilha Grande, Claudio Pfeil

Ele disse: “A mulher não existe”.
Ela ouviu. Não gostou.
E como não é de brincadeira, mais do que rapidamente, resolveu botar para
quebrar:

– Ah é??? A mulher não existe? Deixa estar... Se ela não existe, então vou fazê-la
existir, inventá-la, mas do meu jeito, com a minha cara, única, sem igual: igual a mim,
eu mesma. Me aguardem!

Ele é Lacan.
Ela, cada uma querendo ser diferente da outra.
Mostrar-se: mulher, no universo, sou eu, só eu.

Uma apareceu na janela toda enfeitada.
Outra, na praia quase nua.
Mais outra ali, mais outra acolá, e outra, e outra, e outra...
E mais uma, mais uma, mais uma...

Todas únicas
No desejo de serem únicas.
Iguais jamais, sempre rivais.
Uma mulher sabe bem: ela de um lado, as outras do outro.
Mulher é sempre outra para a outra.

Quer ver o mundo pegar fogo? Duas mulheres vestidas iguais.
Se for numa festa então, melhor não pagar para ver.

Assim nascem as mulheres.
Da inexistência do padrão-mulher.
Em vez do padrão, a desmedida.
Em vez da posse, a ousadia.
Em vez da razão, a loucura.
Em vez da certeza, a dúvida.
Em vez do dogma, o questionamento.
Em vez do conservadorismo, a revolução.
Em vez da rotina, a novidade.
Em vez da norma, a exceção.
Em vez da identidade, o enigma.
Em vez da instituição, a invenção:

A mulher não existe.
A mulher não existe ainda mais porque as mulheres estão a se criar
Nascem a si mesmas, cada uma por si

Quem mandou Lacan provocar o que não tem lei?

Claudio Pfeil

Cabelo ao mar, Ilha Grande, Claudio Pfeil

2 comentários:

  1. É isso mesmo, Cláudio. Quem mandou Lacan provocar as mulheres? Será que ele entendia mesmo a alma feminina?
    beijos
    Marilia

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  2. Marília

    Tudo começou com Freud, para quem a mulher, segundo expressão própria, é um "continente negro". Lacan parte daí para pensar: o que é o ser mulher? Isso porque, de forma mais elementar possível, a definição do ser mulher se dá sempre a partir do ser homem: ser mulher é não ser homem, isto é, não ter o pênis. Em outras palavras, "ser mulher" é uma definição, digamos, em negativo: enquanto no homem "há" (presença de algo, simbolizado pelo pênis) na mulher "não há" (ausência de algo).

    A questão portanto permanece: se a mulher não é homem, o que é então ser mulher? Boa pergunta. Freud, Lacan, você e eu estamos aqui procurando um resposta. Será que existe?

    Obrigado por nos acompanhar

    Claudio Pfeil

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