2 de maio de 2013

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Que país (de diversões) é esse?





Um garoto de cinco anos ganha de presente de aniversário um rifle. Se fosse de mentira já seria uma aberração. O que dizer de um rifle de verdade? Pois então. Brincando (de verdade) com o rifle (de verdade), o garoto mata (de verdade) a irmãzinha (de verdade) com um tiro (de verdade) no peito (de verdade). Tudo de verdade. Embora a gente custe a crer que num país dito civilizado, arauto da democracia, verdades como essa não sejam brincadeira: são brinquedos de verdade de crianças e adultos.

“Acidentalmente”, disseram as autoridades policiais de Kentucky, Estados Unidos, que registraram o “incidente” na última quarta-feira, primeiro de maio. Segundo um dos policiais, o caso está sendo investigado e, eu cito, “é um pouco cedo para falar sobre possíveis responsabilizações”. 

“Acidentalmente” como??? “Incidente” como??? “Cedo para falar de responsabilizações” como??? 

Bem, um pouco de etimologia vai nos ajudar a saber do que estamos falando de verdade. Acidente, vem do latim accidens, particípio de accidere, que significa “ocorrer, acontecer, cair sobre”; daí, o sentido ampliou-se para “algo que acontece por acaso”. Incidente vem do verbo latino incidere que significa “acontecer de forma imprevisível”. Já a palavra responsável vem do latim responsum que significa “resposta”, portanto, “aquele que responde por”.  

Ora não se trata nem de um acontecimento por acaso, muito menos imprevisível. O rifle não caiu nas mãos do garoto como a chuva cai do céu, tampouco o uso que a criança dele fez foi imprevisível. Quem dá um rifle (de verdade) a uma criança (de verdade) seja ela de que idade for, prevê e provoca (de verdade) o que vai, cedo ou tarde, acontecer (de verdade). Quanto à responsabilização, não é preciso ir longe para achar quem deve responder (de verdade) por isso: papai e mamãe têm seu papel e penas a cumprir. É preciso sim, ter a coragem suficiente para amadurecer e relacionar-se minimamente com a verdade. Não é mesmo brincadeira.

Quando é que os Estados Unidos vão deixar de ser um Parque de Diversões (di-versões, in-versões, dis-torções) e crescer de verdade? 

Dare to know cow-boys! A verdade às vezes assusta, mas não mata. Já brincar com ela, no que vocês conhecem melhor do que ninguém.

7 comentários:

  1. Adorei seu texto, Claudio Pfeil.
    Muito oportuno sem rodeios suas palavras de verdade que apontam para uma realidade de verdade - cheia de distorções, inversões de diversões, que acabam na fatalidade. Texto bom de verdade.
    Alice Graniska.

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  2. Excelente texto. Postei no facebook. Incrivel! concordo em genero, numero e grau com vc. O país está doente. Todos os desenhos animados, filmes e midia incitam à violencia, só que as consequencias são virtuais e o povo cria seus filhos sem o minimo de coerencia, limites, informações sobre a vida. Só o dinheiro vale e a violencia é um valor para se conseguir o money, money, money!!! Na realidade o povo americano é tão ingnorante quanto o nosso só que tem maior poder aquisitivo. Help!
    Bjs. Lenah

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  3. É o país impulsionado pela indústria bélica, pelas sucessivas invasões contra países autônomos em nome de da implantação de uma "democracia" - e tome de matar criancinhas, destruir cidades, violentar mulheres, e principalmente, arrancar petróleo.
    É um país que respira conspiração, que usa e abusa do medo, que faz os seus cidadãos se suporem heróis e o resto do mundo, terroristas.
    O país das manipulações, onde três mortos em Boston dão muito mais notícia do que milhares, ao longo de anos, no Iraque, Afeganistão.
    Um país que se dá o direito de manter Guantánamo! É de um absurdo tão grande que me faltam palavras que dêem conta.
    Preparem-se, pois a próxima notícia, possivelmente, será a de que uma criancinha de 2 anos matou seu irmãozinho na maternidade, ao ir conhecê-lo. É a forma que ela conhece de dar as boas-vindas.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Miriam

    A originalidade mais genial (ori-genialidade!) da DEMOKRATIA tal como os antigos gregos a conceberam, reside no fato de que a Política, compreendida como investig-ação acerca do bem comum, JAMAIS se submete à economia e à tecnocracia, pelo contrário: estas é que são SEMPRE sumbetidas à Política.

    Quando em face de aberrações como esta que motivou meu artigo, representantes políticos dos EUA - país que arroga para si o papel de guardião universal da democracia (o que, aliás, "justifica" invasões às quais você se referiu) - rejeitam escancaradamente, na contramão da opinião pública, reformar a lei concernente a utilização de armas, cabe-nos urgentemente indagar não apenas:
    - "que país (de diversões) é esse?", mas também:
    - que espécie de democracia é essa?

    Obrigado por acompanhar o Diário.

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  6. Exatamente: " democracia" inventada por eles e para eles, só e mais nada. Não se pode admitir a possibilidade de haver democracia no país que estimula as desigualdades sociais, racista, conservador, e tantas outras costas más! E que ainda apóia escancaradamente as ditaduras pelo mundo afora.

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  7. Trazendo a crítica para dentro do nosso quintal, seu texto me fez lembrar que também, como país, colocamos armas nas mãos de nossos adolescentes e os estimulamos a delinquir quando deixamos de adequar nossas leis penais à capacidade que eles têm de ferir. Desde cedo jovens têm acesso a armamentos e destroem vidas, famílias, patrimônios, para depois verem sua punibilidade extinta aos dezoito anos, quando saem da cadeia (quando são presos) com a ficha mais limpa que nossos dentes.

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