5 de junho de 2013

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Estádio e estágio da humanidade




Nos jornais de ontem, terça-feira 4 de junho, não teve para ninguém: indiscutivelmente ele é a bola da vez. Todos falam do homem de meio bilhão de dólares. Para se ter uma ideia, metade da primeira página de O Globo estampava a foto gigante do craque aclamado por torcedores do Barcelona em sinal de boas vindas ao time espanhol.

Não sou repórter, analista esportivo, muito menos bom de bola. Também não sou de falar mal da imprensa. Mas, com todo respeito ao O Globo, um dos jornais de maior circulação do País, creio que foi deveras negligente, fez pouco caso da notícia: um fato como este merece no mínimo a primeira página inteira. Permito-me fazer uma sugestão de manchete:


NOVENTA E CINCO MIL TORCEDORES EM DELÍRIO LOTAM ESTÁDIO EM PLENA SEGUNDA-FEIRA PARA VER JOGADOR DE FUTEBOL FAZER EMBAIXADINHAS


Notável, extraordinário, assombroso, não? Meia página é pouco, muito pouco. Sinceramente. Ainda bem que a Rede Globo, que tem consciência das coisas, transmitiu ao vivo. Ao vivo, ouviram bem? Um acontecimento como esse tem que ser vivido em tempo real. Pois ele é a realidade de nosso tempo. Realmente espetacular. E acima de tudo, revelador: revelador do estádio, do estágio da nossa humanidade.

Todo mundo sabe que, no ideal de atingirem a beleza de corpo e alma, atributo exclusivo dos deuses, os gregos  inventaram os Jogos Olímpicos e a Filosofia. Que a Terra é redonda, geniais que eram, eles também pressagiaram. De lá para cá, vinte e cinco séculos rolaram, e o globo girando, girando, girando... 

A beleza do corpo tomou a forma de um hedonismo narcísico exacerbado e a beleza da alma, bem, ninguém dá mais bola, coisa de otário, frescura de poeta. Os gregos que se lixem!

E o globo? Continua girando, girando... Virou bola. A bola rola, mas o que rola mesmo é o dinheiro: quem detém a bola tem valor, poder, poder de fazer rolar mais dinheiro. Para quem? Ora, os donos da bola, é claro. Quem é dono da bola não manda no jogo? Pois bem, o ideal dos nossos dias é ser ídolo, craque, dono da bola, do dinheiro, do poder: quem pode, é aclamado, vira capa de O Globo, quem não pode, lota o estádio. Ou se espanta como eu. 

E a bola rolando, o dinheiro apitando, a ignorância correndo, a miséria embolando, os donos mandando, o globo girando...  Fazer o que?

Bola prá frente: vamos ver no que esse jogo vai dar. Ou será que já não vemos?

Um comentário:

  1. Já eu, que não tenho nenhum respeito ao Globo, tenho cada vez menos pela bola, ou melhor, pelos donos dela.
    E "quem não pode", já não pode lotar o estádio também! Viu os preços do Maraca, que era "nosso"???
    Tô fora, mas eles, cada vez mais dentro...

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