17 de fevereiro de 2014

6

A verdadeira ilusão






A Jeff Aragon




Ao ver o hóspede na cama 
noite adentro
baralho à mão
pensei, ri-me até -
de certo vai jogar paciência,
que ideia trazer um baralho na bagagem!  

A ilusão começara ali
naquele relâmpago de visão
Di-visão
a minha é claro

E o que era ilusão di-visão
adormeceu serena
ganhou a noite inconsciente
fingindo se esquecer
para só amanhecer no dia seguinte
sem se desfazer
pelo contrário 

Apenas tomou a forma de um gigante
Do mestre dos mestres do ilusionismo
tomou a casa
tomou os gatos
tomou os olhos
tomou os ares
tomou a nós mesmos
tudo, tudo, tudo
Casa, gatos, olhos, ares, nós, mesmos, tudo?!
Meu Deus! 

Contando ninguém acredita.
Ninguém. Nem mesmo a gente.
Mas de que vale a crença
Quando o coração vai parar nas alturas? 

Melhor assim
Deixar quieta a carta no baralho
O dólar, o oito, a bola de sinuca
Soltem-se as mãos, os dedos, os elásticos
Pois nada podem por nós
Senão padecerem da perplexidade nossa
E do fortuito, misterioso
Enamoramento do encontro
Sem hora ou carta marcada para acontecer 
E acontece sem sentido algum
Que não o próprio acontecer

O sentido e a explicação 
Nada nos fariam ganhar
Sobre o acaso que ronda
Arregala os olhos
Prende a respiração
Provoca a visão
Di-visão
Ilusão 

Ah ilusão, ilusão, ilusão!
De que é feito o verdadeiro Iludir-se?
Não é miragem, delírio, sonho da visão
Ilusão da grossa, das grandes, isto sim
é engodo, disfarce, mentira da certeza
A verdadeira ilusão fabricamo-la nós mesmos
no (em)baralho do saber que acreditamos já possuir:
de certo vai jogar paciência,
que ideia trazer um baralho na bagagem!

6 comentários:

  1. Paciência que a vida também é feita da crença do olhar.
    Adorei o poema e a temática do ilusionista.
    Talita Ramos

    ResponderExcluir
  2. O Gigante mágico com seu baralho tomou tudo: casa , gatos, ares, alma , coração e amor.

    ResponderExcluir
  3. Tomou até mesmo a mim que fisicamente fiquei aqui parado feito um 2 de Paus, mas que mentalmente fui abduzido pelo poema e pelo ineditismo da situação.
    Fausto Jacques

    ResponderExcluir
  4. O maior baralho são as ideias embaralhadas,
    serei rainha? e quem é o meu rei? e eu lá quero um rei? para que?
    prefiro o meu príncipe encantado
    que nunca vai se desencantar, graças,
    nem me desencantar,
    encantados não nos desencantam,
    nos encantam e as vezes até o dia que quisermos, então nós os desencantamos e... seguimos em frente para outros cantos, e outros encantos...
    a vida é cheia de encantamentos!
    Beijos Rosa

    ResponderExcluir
  5. Hoje em 3:19 PM

    Li sua poesia. Gostei. Penso que criamos uma imagem sobre nós mesmos, uma ilusão onde para cada jogada da vida há uma resposta perfeita, uma aparência atraente, uma característica conveniente. Só nós creditamos essa ilusão. É como um coringa no baralho, que tampa os "vazios", como diria Lacan, oferecendo propostas ilusórias para aquilo que já perdeu o momento. Paciência!...- Lucia Chataignier

    ResponderExcluir
  6. Claudio Pfeil! O que posso lhe dizer após ler estas linhas? Um dos poemas mais lindos e profundos que já vi em minha vida! Que grande honra fazer parte desta historia, que por sinal acaba de começar! Bjs grandes!

    ResponderExcluir