20 de maio de 2014

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Gabi-blá-blá-blá



Eu não sei, sinceramente, de onde tiram que certas pessoas, sobretudo algumas que trabalham na televisão, são inteligentes, mega-inteligentes, mega-hiper-inteligentes. Tenho um palpite: tal opinião vem do fato de tais pessoas serem verborrágicas, não deixarem o outro falar (para quê, se elas sabem tudo?) e gesticularem muito como se seu saber fosse tão grande que transbordasse os limites de sua própria epiderme. 

Isso parece ser o caso - digo bem parece ser, pois não a conheço para além da superficialidade da tela da televisão - da mega-hiper-inteligente apresentadora/entrevistadora/jornalista/ atriz/cantora (algo mais?) Marília Gabriela. No seu programa de TV “Gabi Quase Proibida”, de 16/10/2013, cujo vídeo assisti há poucos dias (https://www.youtube.com/watch?v=y0s5IVX16kY), em  entrevista com o cartunista Laerte Coutinho, que pratica o crossdress - ele veste-se de mulher - lá pelas tantas, Marília Gabriela resolveu filosofar:  

- Me parece que para você a sexualidade é muito mais uma questão filosófica do que qualquer outra coisa... 

Laerte arregalou os olhos numa cara de paisagem: 

- Ah é? - riu-se voltando o quanto pôde à cara de paisagem - não sei se eu entendi bem o que é filosófica...- replicou o crossdresser, habituado no seu dia-a-dia a inverter as posições, passando de entrevistado a entrevistador. 

Surpreendida com tal inversão - crossdresser inteligente não é para qualquer um -  a mega-hiper-inteligente entrevistadora viu-se na posição de dever explicar sua própria fórmula, digamos, filosófica. Foi então que, gesticulando nos quatro cantos do mundo e sacolejando num gaguejo e outro, descarrilou baboseira abaixo: 

- Filosófica é quando é uma questão para ser resolvida num plano empírico, é uma questão de compreender porque estabeleceu-se que na vida os nomes são dados e as atitudes são apropriadas, as pessoas se apropriam de situações com uma nomenclatura toda própria...eu acho que foi aí que aconteceu a sua história... 

Laerte, bom de inversão, invenção e re-invenção, manteve-se no salto e pendurou o blá blá blá da apresentadora no cabide em tom didático: 

- Não sei se é filosófico ou se é uma avaliação sociológica, política, eu não sei....    

É isso aí. 
Faltou dizer a Marília Gabriela que a Filosofia nasceu justamente porque no plano empírico há questões que não podem ser - e não são - resolvidas. Ou, em outras palavras, é da insuficiência do empírico que a filosofia extrai o seu vigor. Como na arte. André Gide escreveu : « A arte começa onde viver não basta para exprimir a vida ». 

Mas pera lá, vamos devagar: será que a entrevistadora sabe o que é empírico?


Um comentário:

  1. Oi Claudio
    Estava com saudades de você; assino em baixo essa sua apreciação inteligente, brilhante!
    Bjs Rosamaria

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