17 de outubro de 2014

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O mal dito no corpo




A candidata passou mal após o debate de ontem na televisão: “queda de pressão”, segundo ela própria. Naturalmente poderia ter acontecido com o candidato. Há que se ter um mínimo de compadecimento, ou na falta deste, um pingo de compreensão: não deve ser mesmo nada fácil manter a saúde em níveis de pressão tão baixos e indecorosos. 

Por coincidência, comentávamos exatamente isso no almoço de ontem. Se a gente já fica transtornado com o que ouve e vê durante a campanha, imagine só como ficam os candidatos com o que ouvem, veem e dizem. Ou melhor, com o que não dizem. Afinal, não se pode dizer tudo, ainda mais quando o assunto é política. 

Já era hora de alguma coisa consistente fazer irrupção, tomar corpo, digamos, tomar o corpo. A psicanálise nos ensina que o que não passa pelo simbólico deixa marca no corpo, não importa o lado, seja à direita, à esquerda, ao centro, nos extremos. A pressão da candidata cai enquanto o tique do candidato aumenta. Inevitável, ninguém escapa: quando a simbolização falha,  algo dessa falha se inscreve - e sobretudo se diz, se mal-diz - no corpo: desconforto, mal-estar.

O que não é bem dito é mal dito no corpo, o que não é menos dizer bem: o fracasso da simbolização é o sucesso do sintoma.

E que fique claro: não estou falando do diabo. Estamos todos muito bem advertidos: na política o mal-dito sempre pode ser pior. Deus nos livre. Ou será que vamos todos para "o mal-dito que nos carregue"? 

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