16 de outubro de 2015

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Pa-só-cá



Mousse de paçoca

Rua do Rosário, coração do Rio de Janeiro - pausa para o café. Os docinhos chegaram à mesa: torta de limão com suspiro, mousse de cupuaçu com chocolate branco, mousse de paçoca. A francesa provou um a um. E aprovou: 

- Hmm...Délicieux... aussi bons qu’en France! 

Elogio lisonjeiro : deliciosos…Tão bons quanto na França ! Com direito a hmm? Mon Dieu! Todo mundo sabe que francês não gosta de colocar azeitona na empada de ninguém, muito menos fazer hmm à mesa dos outros. Está certo que o chef-patissier era francês, o garçon também - globalização oblige. Brasileiro garçon em Paris, sou o primeiro a dizer, não é nenhuma novidade, já um francês garçon no Rio, até bem pouco tempo era algo exotique. Quando é que a gente poderia imaginar? 

 A francesa, entre uma bocadinha e outra, silabava: cu-pu-a-çú... pa-ço-cá... cu-pu-a-çú... pa-ço-cá... E, de queixo caído, repetia a lisonja: 

- C’est vraiment délicieux... aussi bons qu’en France! E tome de hmm. humm...hmm...Bem, a gente se alegra, se orgulha todo, se sente o próprio poeta de minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá. Eu diria até que, no meio de tanto dissabor político e frutos podres a emporcalhar-nos a mesa e os sentidos diariamente, são alguns desses sabores da nossa terra que nos salvam. E naquele momento preciso do hmm, a paçoca me salvou. 

Désolé, madame. Tartelette au citron, vá lá, qualquer boulangerie na França tem, e das mais deliciosas do planeta. Já cupuaçú e paçocá, só cá. Seja sempre bem-vinda, madame: nossa terra tem sabores e virtudes insondáveis. E eles hão de nos curar. 

Claudio Pfeil

Mousse de cupuaçú

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