A Jeff Aragon
Ao ver o hóspede na
cama
noite adentro
baralho à mão
pensei, ri-me até -
de certo vai jogar
paciência,
que ideia trazer um baralho
na bagagem!
A ilusão começara ali
naquele relâmpago de visão
Di-visão
a minha é claro
E o que era ilusão di-visão
adormeceu serena
ganhou a noite inconsciente
fingindo se esquecer
para só amanhecer no dia
seguinte
sem se desfazer
pelo contrário
Apenas tomou a forma
de um gigante
Do mestre dos mestres do
ilusionismo
tomou a casa
tomou os gatos
tomou os olhos
tomou os ares
tomou a nós mesmos
tudo, tudo, tudo
Casa, gatos, olhos, ares,
nós, mesmos, tudo?!
Meu Deus!
Contando ninguém acredita.
Ninguém. Nem mesmo a gente.
Mas de que vale a crença
Quando o coração vai parar
nas alturas?
Melhor assim
Deixar quieta a carta no
baralho
O dólar, o oito, a bola de
sinuca
Soltem-se as mãos, os dedos,
os elásticos
Pois nada podem por nós
Senão padecerem da
perplexidade nossa
E do fortuito, misterioso
Enamoramento do encontro
Sem hora ou carta marcada
para acontecer
E acontece sem sentido algum
Que não o próprio acontecer
O sentido e a
explicação
Nada nos fariam ganhar
Sobre o acaso que ronda
Arregala os olhos
Prende a respiração
Provoca a visão
Di-visão
Ilusão
Ah ilusão, ilusão, ilusão!
De que é feito o verdadeiro
Iludir-se?
Não é miragem, delírio,
sonho da visão
Ilusão da grossa, das
grandes, isto sim
é engodo, disfarce,
mentira da certeza
A verdadeira ilusão fabricamo-la nós mesmos
no (em)baralho do saber que acreditamos já possuir:
no (em)baralho do saber que acreditamos já possuir:
de certo vai jogar
paciência,
que ideia trazer um baralho
na bagagem!