Em tempos de Fora! - Fora
Cabral! Fora Feliciano! Fora Paes! Fora Dilma! - Susana Vieira não poderia
estar dentro. Claro. Na capa da revista QUEM desta semana, vê-se o rostinho de
adolescente da atriz septuagenária e a manchete:
“Tenho vivacidade sexual
fora do normal”.
É. Fora do normal.
Bem, Freud já nos ensinou que
humanidade não rima com normalidade. E Caetano já cantou: de perto ninguém é
normal. Susana Vieira não foge à regra: deve lá ter suas anomalias sexuais
bem vivazes como todo mundo. Nisso, ela não está fora de nada. Fora está de outra
coisa.
Para início de conversa, que Susana Vieira tem uma vitalidade de tirar o fôlego e fazer inveja a
muita mulher de 30, 40, isso tem. Ser Rainha de bateria de uma Escola de Samba, mesmo sem ter samba no pé, não é para qualquer uma. E que isto fique bem claro: tudo é escolha, e não se trata aqui de fazer um juízo de valor acerca da escolha pessoal de ninguém. Ainda que possa parecer curioso ou esdrúxulo alguém julgar que sua "vitalidade (sexual) fora do normal" tem relevância pública, o que importa não é a escolha de Susana em fazer alarde disso na pele da ninfeta sempre na flor da idade, mas o que está em jogo nesta escolha.
Cada vez que vejo uma nova foto de Susana Vieira me lembro do personagem do filme O Curioso Caso de Benjamin Button: ele nasce com oitenta e poucos anos e rejuvenesce a cada dia que passa. Assim Susana se nos parece: sua imagem retroage no tempo à medida que este avança. Cada dia mais vangloriosa, mais hiperativa, mais juvenil, mais “fora do normal”. Rosto perfeito de boneca, sorriso imaculado, tez rosada, aveludada como o pêssego, narizinho afilado, nenhuma ruga, marca, vestígios de passado, só um imperativo: jovem! sempre jovem! cada dia mais jovem! A imagem de Susana na capa da revista não é a de uma mulher madura que sabiamente aprendeu a negociar com o tempo e a tirar belo partido dele: é a camuflagem photoshopada da verdade impossível de se photoshopar, enganar, dissimular - cada um de nós é e se sabe temporal. E é disso que ela está fora ou tem a ilusão de estar: da aceitação serena e positiva do tempo que lhe daria, esta sim, uma renovada e verdadeira juventude.
Cada vez que vejo uma nova foto de Susana Vieira me lembro do personagem do filme O Curioso Caso de Benjamin Button: ele nasce com oitenta e poucos anos e rejuvenesce a cada dia que passa. Assim Susana se nos parece: sua imagem retroage no tempo à medida que este avança. Cada dia mais vangloriosa, mais hiperativa, mais juvenil, mais “fora do normal”. Rosto perfeito de boneca, sorriso imaculado, tez rosada, aveludada como o pêssego, narizinho afilado, nenhuma ruga, marca, vestígios de passado, só um imperativo: jovem! sempre jovem! cada dia mais jovem! A imagem de Susana na capa da revista não é a de uma mulher madura que sabiamente aprendeu a negociar com o tempo e a tirar belo partido dele: é a camuflagem photoshopada da verdade impossível de se photoshopar, enganar, dissimular - cada um de nós é e se sabe temporal. E é disso que ela está fora ou tem a ilusão de estar: da aceitação serena e positiva do tempo que lhe daria, esta sim, uma renovada e verdadeira juventude.
O tempo é mesmo aterrador, angustiante. Ninguém escapa, não tem jeito: é a norma de todos nós. Deixa sempre sua marca, marca da finitude que somos. Por isso assusta, e um pouco de ilusão é
preciso para viver. Arte, cinema, novelas, livros, amores, erotismo,
cosméticos, cirurgias plásticas, para que servem? Não nos dão vivacidade
em nossa lida com o tempo? Nada mais "normal". Fora do "normal" não é ter
vivacidade, longe disso: é querer se iludir, numa vaidade cega e sem limites, que se pode
ficar fora do tempo. Em vez de viva(c)idade, vil-vaidade: isto sim pode ser ainda mais aterrador do que o próprio tempo.
Como diz o verso latino: Vanitas,
vanitatum omina vanitas...