31 de outubro de 2013
23 de outubro de 2013
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Hamlet no divã
Antes
de fazer análise, a gente é aquele que ama ou
odeia, a gente é isso ou aquilo.
Quando se começa uma análise, a gente se descobre como aquele que ama e odeia, como isso e aquilo. Como sustentar tal contradição?
Do ponto de vista da razão e da lógica, obviamente, não dá. Pois os dois princípios lógicos fundamentais, inaugurados pelo filósofo Parmênides, são o princípio de identidade e o de não contradição. De maneira simples: o primeiro diz "o ser é", o segundo, "se o ser é, seu contrário (o não ser) não é". A identidade desconhece negação, diferença, movimento, tempo, mudança: tudo isso contraria a própria noção de identidade. Se eu sou o que sou, ou o que penso ser (o que equivaleria à verdade do meu ser), o contrário do que sou ou do que penso ser é necessariamente falso. Tal perspectiva lógica levou outro filósofo, Descartes, séculos e séculos mais tarde, a enunciar uma das, se não a mais conhecida das máximas filosóficas, espécie de florão do racionalismo: “penso logo existo”. Foi preciso Freud e a psicanálise para sustentar a contradição à contracorrente da lógica e da identidade: é justamente onde não há lógica que está a verdade do sujeito. “Penso onde não sou, logo sou onde não penso”, subverte Lacan.
A psicanálise trabalha com o que justamente escapa ao sentido, com a falta de sentido, com o que não se fecha. Uma análise é feita para provocar a divisão na gente: é o que Lacan chama de sujeito dividido, “sujeito barrado” (simbolizado por Lacan como $: a “barra” sobre o “S” designa a falta de unidade, nossa divisão). A divisão que ela provoca é a porta de entrada para a verdade que nos é mais própria, e que no entanto nós desconhecemos, uma vez que é inconsciente e totalmente ilógica. A verdade analítica é da ordem de uma lógica ilógica.
O dilema que a gente enfrenta numa análise não é ser ou não ser, é ser e não ser. Eis a questão.
Hamlet no divã.
Do ponto de vista da razão e da lógica, obviamente, não dá. Pois os dois princípios lógicos fundamentais, inaugurados pelo filósofo Parmênides, são o princípio de identidade e o de não contradição. De maneira simples: o primeiro diz "o ser é", o segundo, "se o ser é, seu contrário (o não ser) não é". A identidade desconhece negação, diferença, movimento, tempo, mudança: tudo isso contraria a própria noção de identidade. Se eu sou o que sou, ou o que penso ser (o que equivaleria à verdade do meu ser), o contrário do que sou ou do que penso ser é necessariamente falso. Tal perspectiva lógica levou outro filósofo, Descartes, séculos e séculos mais tarde, a enunciar uma das, se não a mais conhecida das máximas filosóficas, espécie de florão do racionalismo: “penso logo existo”. Foi preciso Freud e a psicanálise para sustentar a contradição à contracorrente da lógica e da identidade: é justamente onde não há lógica que está a verdade do sujeito. “Penso onde não sou, logo sou onde não penso”, subverte Lacan.
A psicanálise trabalha com o que justamente escapa ao sentido, com a falta de sentido, com o que não se fecha. Uma análise é feita para provocar a divisão na gente: é o que Lacan chama de sujeito dividido, “sujeito barrado” (simbolizado por Lacan como $: a “barra” sobre o “S” designa a falta de unidade, nossa divisão). A divisão que ela provoca é a porta de entrada para a verdade que nos é mais própria, e que no entanto nós desconhecemos, uma vez que é inconsciente e totalmente ilógica. A verdade analítica é da ordem de uma lógica ilógica.
O dilema que a gente enfrenta numa análise não é ser ou não ser, é ser e não ser. Eis a questão.
Hamlet no divã.
18 de outubro de 2013
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Enquanto isso, tenho que externar minha gratidão. Não sei bem se é esta a palavra. Mas no mínimo, Paula Lavigne - que é livre para pensar e defender o que quiser, mas se atropelou no próprio preconceito do qual ela julga estar isenta - me fez descobrir uma excelente cronista.
Gente hipócrita
(Barbara Gancia)
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/barbaragancia/2013/10/1354924-gente-hipocrita.shtml
Virei fã
Todo
mundo mais ou menos antenado, mais ou menos ligado à literatura, deve
estar se cobrando uma posição acerca da celeuma dos direitos atuais. Eu
tô nessa. Tenho me informado lá e cá, mas confesso: não tenho ainda nenhuma opinião formada. Quando tiver uma, publicarei no Diário.
Enquanto isso, tenho que externar minha gratidão. Não sei bem se é esta a palavra. Mas no mínimo, Paula Lavigne - que é livre para pensar e defender o que quiser, mas se atropelou no próprio preconceito do qual ela julga estar isenta - me fez descobrir uma excelente cronista.
Virei fã! Da Bábara, é óbvio!
Leiam, leiam, leiam: é bárbara!
Leiam, leiam, leiam: é bárbara!
Gente hipócrita
(Barbara Gancia)
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/barbaragancia/2013/10/1354924-gente-hipocrita.shtml
14 de outubro de 2013
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O funkeiro da Parada
Parada LGTB Rio 2013, Praia de Copacabana |
Muito assertiva, para não dizer brilhante, a
intervenção do locutor do carro do Funk durante a PARADA LGBT RIO 2013, ontem
em Copacabana. Quando um punhado de baderneiros tentou botar o terror no
meio da multidão que dançava na maior alegria e paz, ele lançou mão do microfone, mandou cortar o som e soltou o vozeirão:
- Polícia
Militar, Polícia Militar! Atenção! Atenção! Aqui do lado direito do carro 10,
bem na frente, tem gente que não tem nada a ver com a gente e que está buscando
briga! Polícia Militar! Polícia Militar! Lado direito do carro 10, bem na
frente! Gente, aqui não é lugar de briga, é lugar do amor! Quem não
estiver de acordo, vá embora! A gente gosta de funk, não gosta de briga! Vamos
apontar para quem está brigando! Vamos
apontar para quem está brigando! Vamos mostrar para a Polícia! Aqui não é lugar
para brigar! É lugar do amor! Quem não estiver de acordo, eu repito, vá embora!
Gente, não interessa se você é gay, lésbica, transexual, travesti,
heterossexual, bissexual! Vamos beijar na boca!
O locutor
funkeiro acertou em cheio. Primeiro, chamou
a quem de direito - Polícia Militar, Polícia Militar! - à
responsabilidade que é sua, e não dos organizadores da Parada, os quais,
diga-se de passagem, realizaram este ano a mais bonita e espetacular
manifestação LGBT jamais vista no Rio.
Em segundo
lugar, demarcou com firmeza e nitidez o lugar dos arruaceiros - lado direito
do carro 10, bem na frente! Vamos apontar para quem está brigando! Vamos
mostrar para a Polícia! Aqui não é lugar para briga! - evitando não somente
que o terror se alastrasse, como também que se confundisse os
funkeiros (os quais, mais uma vez, requebravam alegremente na maior paz), com o
punhado de baderneiros infiltrados.
Por fim, não se
intimidou em dar, de forma elegante, irreverente - e por que não dizer,
reflexiva? - uma definição de LGBT que rompe com os clichês estereotipados: É
lugar do amor! Quem não estiver de acordo, eu repito, vá embora! Gente, não
interessa se você é gay, lésbica, transexual, travesti, heterossexual,
bissexual, vamos beijar na boca!
É isso aí: Quem
não estiver de acordo, eu repito, vá embora! Como bem disse uma professora de psicanálise a respeito dos queixumes e
censuras que, a exemplo de Dora paciente de Freud, insistentemente endereçamos
ao outro: “é só sair de cena”.
Um verdadeiro
exemplo de festa, cidadania e civilidade. Parabéns ao locutor funkeiro: do alto
do carro 10, assumiu geral o controle da Parada. No batidão carioca.
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