Sem palavras
Cem palavras
Mil
Milhares
Milhões
Todas as letras
Sonhadas
Inventadas
Amadas
Que venham todas
Movam, removam, revolvam
Céus, terras, oceanos
Corram todas!
Extasiem-se em leitos sujos
À sombra dos abacateiros
Divã com meias de seda
Motel barato, luz de neon
Embriaguem-se de luxúria
Penetrem-se todas
Comam-se, bebam-se
Chupem-se esgoto adentro
Corpos, buracos, guetos
Homens, fardas, prostitutas
A corja toda madrugada afora
Amantes da primeira ou derradeira hora
Faça-os gozar
Botar as tripas para fora
Faça-os ir aonde o dever não quer
Mas aonde o desejo está sempre a atrair
A trair
Amem
Riam
Chorem
Finjam
Gritem
Batam
Mintam
Neguem
Mordam
Firam
Sangrem
Matem
De ódio, vingança, ciúme
Vileza, loucura, solidão
Inveja, perversão, covardia
A porra toda
Incendeiem, palavras, incendeiem!
Incendeiem, estão a me ouvir?
Incendeiem, porra, incendeiem!
A porra toda do tesão!
Mas que porra é essa!
O fazedor de estorias desertou dormindo?
Apagou-se na calada da noite?
Parece até coisa das suas
Escrito em algum lugar
Ejaculação precoce
Não pode ser
Mas é
Silêncio
Vazio da alma
Acudam palavras
Acudam!
Não morram
Por favor
Não morram!
Se morrer é destino certo
Até do mais nobre homem
Ignóbil fado seria
Morrer na ausência de quem por vocês viveu
E as fez durar e dourar feito estrelas
Com a paixão do universo só seu
Adorando-as em cada leito
Na volúpia e dor do leitor
Adorador de palavras
Adora-dor de palavras
Adoração e dor
Eis que o coração escreve
Ao adora-dor de palavras Alex Azevedo Dias
a admiração e homenagem do Diário de um analisando em Paris
a admiração e homenagem do Diário de um analisando em Paris