A cor da chuva, Claudio Pfeil |
O Rio hoje, um certo ar de
Paris.
Chuva, luz fosca, escorrer
melancólico das horas refletido no asfalto, fachadas sombrias, mudas, janelas
fechadas. Até a montanha que vejo do meu escritório, sempre verdejante, hoje
parece diluir-se nas gotas dançantes da vidraça. O Rio descobre-se cinza,
parece estranhá-lo, padece da monocromia e pergunta-se: onde estou, quem sou? Em
Paris o cinza é arte, no Rio, estrangeirice.
Lembrei de minha senhoria
da rue Hermel, uma senhora elegante,
sempre nos trinques. Numa tarde chuvosa, atravessávamos o Bois de Boulogne em seu carro quando subitamente me indagou:
- Vous avez remarqué que la pluie à Paris est
argentée?
Quase tive um sobressalto:
"você já reparou que a chuva de Paris é prateada?" Achei graça com o
que para ela parecia óbvio, para mim não. Passei a prestar mais atenção.
Começou com a prata,
naquela tarde em Paris. Desde então, toda vez que chove, abro bem os olhos e me
pergunto: que cor tem essa chuva?
A chuva chove, molha, e eu
vivo inventando uma cor para ser só dela.
A chuva do Rio é maravilha.
Paris argentum, Rio mirabilis.
Claudio Pfeil
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