13 de abril de 2016

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(Minha) Hora e vez do Diospyros Kaki




Confesso que sempre o achei bonito. Doce e saboroso também. Mas não a ponto de preferi-lo a outros integrantes da fruteira:  manga, abacaxi, abacate, tangerina, laranja. Desde minha infância lembro-me dele à mesa, meus pais fazendo-lhe elogios, enaltecendo suas virtudes. Acho que fiquei com a ideia de que ele era mais para o gosto dos adultos que das crianças. Às vezes o tinha nas mãos, sem muita alegria ou convicção, mordia-o, achava bom – bom? – bem, sem muita exaltação. Parecia meio sem graça, o sabor muito aquém da cor, mais para se ver do que para se comer. Sem falar na viscosidade esquisita, os dedos lambuzados de mais para um prazer de menos. Anos a fio o desdenhei, fiz pouco caso dele, o preteri, sem muita consciência de fazê-lo. Simplesmente vivi com ele deixando-o para lá: o conheci desconhecendo-o, o avistei sem vê-lo, o provei sem descobri-lo. E mais do que isso: sem saber o que eu estava perdendo. Tão frequentemente humano, não?

Mas sempre é hora de despertar para a extraordinária novidade daquilo que pensamos conhecer bem e que, na verdade, não conhecemos. Foi o que aconteceu comigo. A cor, sempre a vibrar. Eu já deveria ter atinado: cores não vibram à toa. Macio no toque, a pele muito fina, delicada como seda oriental. Amadurece rápido, tão rápido, que de um dia para o outro, se abre no simples apertar de dedos e desmancha-se na língua como um pudim. E que fineza de sabor! - sutil como flor. Só poderia ter vindo do Oriente.

Seu nome, que origem tem? Não sabia, soube hoje. Em Portugal, chamam-no de dióspiro (diospyros), do grego dióspuron que significa "alimento de Zeus". É a fruta que Ulisses comeu na Odisséia e que o fez esquecer tudo. Entre nós, cá, aqui: caqui, do japonês kaki. Dióspiro ou caqui, é realmente dos deuses. Não é à toa que levei tanto tempo para finalmente descobri-lo: chegar ao paladar do Olimpo requer aprendizagem, longa maturação dos sentidos.

Seja como for, agora é (minh)a hora e (minh)a vez do caqui, não tenho mais um segundo sequer de sabor a perder: A vida é feita para a gente se lambuzar: a viscosidade do caqui é promessa. Bora fazer uma kakipirinha?

Claudio Pfeil

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