Tudo pronto ontem para o dueto de Alain Delon com a
cantora pop Shy’m, no programa de televisão da France 2, Simplement pour un soir. Simplesmente, não apareceu. O motivo? Em
vez de um convite comme il faut -
escrito INVITATION - Delon recebeu um simples papel em formato de CONVOCATION,
com informações práticas: local, horário de gravação, etc. Não gostou, achou
falta de politesse, se irritou e declarou solenemente : « On ne convoque pas
Alain Delon ! On invite Alain Delon ! ».
É isso mesmo: o par de olhos azuis mais famosos do
cinema francês não é para ser convocado, mas sim convidado. Falta de politesse à parte, a fúria e o furo de
Delon se resumem, não ao dueto Delon e Shy’m, mas ao dueto dos significantes “convocação"
e "convite". Na verdade, o bafafá ocorreu por obra e força do que Lacan
chama de "significante".
Uma análise serve para que a gente ouça a verdade
do que é dito por nós: a função exclusiva do analista é a de ouvir e nos fazer
ouvir. Isso porque uma palavra, a qual significa aproximadamente a mesma coisa
para os falantes de uma mesma língua, na prática analítica significa algo
totalmente singular para um sujeito e não para outro. É esse o sentido de
"significante" em Lacan: algo que representa cada um de nós, nos
identifica. A frase de Delon dita no
divã, propiciaria ao analisando ouvir a significação específica, absolutamente
singular, atrelada aos significantes "convocar" e
"convidar". A fúria e o furo de Delon indicam que ele não se sente
nada representado pelo significante convocation,
este não o identifica, muito pelo contrário, o exclui. Por isso, deixou Shy’m
e todo mundo a ver navios.
Afinal, um Delon convocado equivale a qualquer
Delon.
Convidado, só um.
Convidado, só um.
Madonna já profetizou: "Você pode ser um lindo matador... Mas nunca será Alain
Delon."
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