Nas calçadas deparei-me com ele, o
significante. Não é para mim um significante qualquer, mas propriamente aquele
pelo qual sou representado, amarrado no mundo. Impossível não atender ao
chamado: aquele ali, sou eu, colado no cartaz ambulante. Ele anda, corre pelas
ruas, e aonde quer que ele vá, vou com ele. Este "eu" ali, este mesmo,
sou eu?
Trapaças do significante.
Juro por tudo que é sagrado que esse que
me representa sou eu e no entanto não sou eu. Não mesmo.
A começar por isto: meu trabalho não é
rápido, tampouco garantido. Posso dizer que lido com o espírito, mas não sou
espírita nem tenho poder nenhum. Mas a bem da verdade devo confessar que mais
do que nas amarras impostas pelo significante, fiquei amarrado num dos ítens da
extensa lista de Pai Cláudio: "Amarações no Amor". Assim mesmo:
amarações.
Amarações no Amor: não seria essa
insólita e bela expressão a síntese do trabalho de transfigurar
"amarrações neuróticas" em "amar-ações", isto é, ações
livres de amar?
Amarações no Amor: transfiguração de
Vida em Poesia. Este "eu", ali, amarrado no cartaz, não sou eu e no
entanto sou eu para além de mim mesmo. O eu-cartaz continua a ambular na
calçada enquanto eu - eu? - dobro a esquina sorrindo.
Claudio Pfeil
Sabia, desde quando li o cartaz, sem me atentar para o título que você focaria no amarações, fazendo esse jogo de palavras que você tão bem sabe fazer. Adoro!
ResponderExcluir