Ele disse: “A mulher não existe”.
Ela ouviu. Não
gostou.
E como não é de
brincadeira, mais do que rapidamente, resolveu botar para
quebrar:
– Ah é??? A
mulher não existe? Deixa estar... Se ela não existe, então vou fazê-la
existir,
inventá-la, mas do meu jeito, com a minha cara, única, sem igual: igual a mim,
eu mesma. Me
aguardem!
Ele é Lacan.
Ela, cada uma
querendo ser diferente da outra.
Mostrar-se:
mulher, no universo, sou eu, só eu.
Uma apareceu na
janela toda enfeitada.
Outra, na praia
quase nua.
Mais outra ali,
mais outra acolá, e outra, e outra, e outra...
E mais uma, mais
uma, mais uma...
Todas únicas
No desejo de
serem únicas.
Iguais jamais,
sempre rivais.
Uma mulher sabe
bem: ela de um lado, as outras do outro.
Mulher é sempre
outra para a outra.
Quer ver o mundo
pegar fogo? Duas mulheres vestidas iguais.
Se for numa
festa então, melhor não pagar para ver.
Assim nascem as
mulheres.
Da inexistência
do padrão-mulher.
Em vez do
padrão, a desmedida.
Em vez da posse,
a ousadia.
Em vez da razão,
a loucura.
Em vez da
certeza, a dúvida.
Em vez do dogma,
o questionamento.
Em vez do
conservadorismo, a revolução.
Em vez da
rotina, a novidade.
Em vez da norma,
a exceção.
Em vez da
identidade, o enigma.
Em vez da
instituição, a invenção:
A mulher não
existe.
A mulher não
existe ainda mais porque as mulheres estão a se criar
Nascem a si
mesmas, cada uma por si
Quem mandou Lacan
provocar o que não tem lei?
Claudio Pfeil
Claudio Pfeil
Cabelo ao mar, Ilha Grande, Claudio Pfeil |
É isso mesmo, Cláudio. Quem mandou Lacan provocar as mulheres? Será que ele entendia mesmo a alma feminina?
ResponderExcluirbeijos
Marilia
Marília
ResponderExcluirTudo começou com Freud, para quem a mulher, segundo expressão própria, é um "continente negro". Lacan parte daí para pensar: o que é o ser mulher? Isso porque, de forma mais elementar possível, a definição do ser mulher se dá sempre a partir do ser homem: ser mulher é não ser homem, isto é, não ter o pênis. Em outras palavras, "ser mulher" é uma definição, digamos, em negativo: enquanto no homem "há" (presença de algo, simbolizado pelo pênis) na mulher "não há" (ausência de algo).
A questão portanto permanece: se a mulher não é homem, o que é então ser mulher? Boa pergunta. Freud, Lacan, você e eu estamos aqui procurando um resposta. Será que existe?
Obrigado por nos acompanhar
Claudio Pfeil