Rafael Sanzio, Escola de Atenas |
Qualquer ser humano tem
o direito, seja por que motivo for, de renunciar à função que lhe foi
designada. É antes de tudo uma prerrogativa do ser livre. O Papa não foge à
regra. Sua pompa apenas disfarça, não o faz transcender: humano, demasiadamente
humano, parodiando Nietzsche.
Particularmente, por
não ser cristão nem coisa religiosa nenhuma, a saída do Papa não me move nem me
comove. Os motivos são muitos, mas aqui não importam. Bertrand Russell, a quem
não escondo de ninguém, muito pelo contrário, minha profunda admiração,
escreveu um belíssimo texto intitulado “Por
que não sou cristão: um exame da ideia divina e do cristianismo”, cujo link assinalo abaixo para quem interessar, e o qual subscrevo
integralmente. Diria apenas, de forma sucinta e clara, que procuro pautar minha
vida na filosofia, isto é, no livre pensar contra quaisquer dogmatismos. Na balança,
digamos, tendo para o lado de Sócrates, Espinosa e Sartre, não o da Igreja, a
qual, no meu entendimento, não tem absolutamente nada, ou quase nada, a ver com a
lição de amor de Cristo.
Naturalmente, a Igreja
Católica deixou um imenso legado à civilização. Refiro-me, não à sua doutrina,
esta baseada no medo e na subserviência, mas na fabulosa produção artística que
proporcionou, ainda que em favor de sua manutenção no poder. Não há como não se
emocionar diante das rosáceas góticas e dos afrescos do Renascimento. Obrigado,
portanto, aos anônimos artistas medievais, Rafael, Leonardo, Michelangelo e uma
legião de gênios. Quanto à saída do
Papa, bem, é um direito que lhe assiste o qual, penso eu, deve ser rigorosamente
respeitado. Ele se diz cansado e prefere se aposentar. João Paulo II escolheu
outra coisa: entregou-se, por assim dizer, em sacrifício à Santa Sé, débil e
com Parkinson avançado, até seu último suspiro. Igualmente respeitável.
O direito de cada um resguardado,
sinto-me compelido a expressar minha posição: a saída de Bento XVI, em virtude de suas posições orto-retrógradas, é um serviço
prestado - ainda que este não seja o seu intuito e que isto não vá mudar em nada a ortodoxia da Igreja - à construção existencial com base numa
autêntica autorreflexão ética, ou seja, na liberdade, e não no temor ante uma
moral dogmática.
Habemus satisfactionis.
“Por que não sou cristão: um exame da ideia divina e do cristianismo”, Bertrand Russell:
http://ateus.net/artigos/critica/por-que-nao-sou-cristao-um-exame-da-ideia-divina-e-do-cristianismo/
“Por que não sou cristão: um exame da ideia divina e do cristianismo”, Bertrand Russell:
http://ateus.net/artigos/critica/por-que-nao-sou-cristao-um-exame-da-ideia-divina-e-do-cristianismo/
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