Continuando no registro das diferenças: organizados e eficientes, nisso os nova-iorquinos também se
diferenciam um tanto de nós. Claro, claro, generalizações são sempre burras e
há sempre algo ou alguém a nos desmentir. A cozinha de nossa housemate, por exemplo, é um furdunço de
latas e caixas vazias misturadas a rolos de sacos de lixo, papel higiênico,
produtos de limpeza, temperos, molhos de tomate, pacotes de macarrão e por aí
vai. E todo mundo conhece um brasileiro que odeia carnaval e futebol. Dito
isso, brasileiro adora futebol e carnaval, e os nova-iorquinos são organizados e
eficientes. E vão além disso.
Vamos à prova - a nossa -
é claro. Supermercado Mundial de Copacabana, do qual sou assíduo cliente. Quem
nele já esteve sabe bem o que é: mais popular e apinhado impossível, gente se
acotovelando, filas intermináveis nos caixas. O melhor preço da praça, óbvio.
Pois então. Em East Village, onde ficamos, tivemos a sorte de encontrar pertinho de casa o Trader Joe’s, uma espécie de Mundial muitos patamares acima, porém,
ao que nos pareceu, preço muito em conta, bastante popular, sempre cheio e
apinhado. No primeiro dia, ao avistar uma só fila gigantesca em direção aos
caixas serpenteando o supermercado, quase fomos embora.
Ainda bem que não fomos. Para surpresa nossa, contrariamente ao Mundial que tem
inúmeras filas sempre emperradas, a fila única do Trader Joe’s flui numa rapidez que deixa a gente boquiaberto e
intrigado. Maior número de caixas do que no Mundial? Não. De funcionários? Não,
pelo contrário. Atendimento mecânico, tratamento impessoal? Nada disso. Os
caixas - pasmem! - batem papo com os clientes (a jamaicana que nos atendeu está
com planos de ir ao Brasil) e, com o esmero e o cuidado de quem prepara uma
mala para viagem, arrumam eles próprios as compras dentro de sacolas de papel.
A gente nem toca na mercadoria, só pega a sacola quando o caixa termina de
arrumar e vai embora. Inacreditável. Não precisa ser nenhum especialista em
gerência nem análise organizacional para se dar conta de que uma só fila bem
distribuída em direção a pessoas atentas e prontas no caixa, vale muito mais do
que um emaranhado de filas competindo umas com as outras no empurra-empurra e
bate-bate dos carrinhos de compra. Não se trata simplesmente de organização e
eficiência, tarefas que uma máquina ou um robô são capazes de cumprir: trata-se sim de
organização e eficiência aliadas à cordialidade e ao respeito.
Caixa do Trader Joe’s, East Village, NYC |
amo seu olhar...
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