24 de setembro de 2013

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Nova-iorquinos: tão diferentes, tão parecidos (Parte 2)



Continuando no registro das diferenças: organizados e eficientes, nisso os nova-iorquinos também se diferenciam um tanto de nós. Claro, claro, generalizações são sempre burras e há sempre algo ou alguém a nos desmentir. A cozinha de nossa housemate, por exemplo, é um furdunço de latas e caixas vazias misturadas a rolos de sacos de lixo, papel higiênico, produtos de limpeza, temperos, molhos de tomate, pacotes de macarrão e por aí vai. E todo mundo conhece um brasileiro que odeia carnaval e futebol. Dito isso, brasileiro adora futebol e carnaval, e os nova-iorquinos são organizados e eficientes. E vão além disso.

Vamos à prova - a nossa - é claro. Supermercado Mundial de Copacabana, do qual sou assíduo cliente. Quem nele já esteve sabe bem o que é: mais popular e apinhado impossível, gente se acotovelando, filas intermináveis nos caixas. O melhor preço da praça, óbvio. Pois então. Em East Village, onde ficamos, tivemos a sorte de encontrar pertinho de casa o Trader Joe’s, uma espécie de Mundial muitos patamares acima, porém, ao que nos pareceu, preço muito em conta, bastante popular, sempre cheio e apinhado. No primeiro dia, ao avistar uma só fila gigantesca em direção aos caixas serpenteando o supermercado, quase fomos embora. Ainda bem que não fomos. Para surpresa nossa, contrariamente ao Mundial que tem inúmeras filas sempre emperradas, a fila única do Trader Joe’s flui numa rapidez que deixa a gente boquiaberto e intrigado. Maior número de caixas do que no Mundial? Não. De funcionários? Não, pelo contrário. Atendimento mecânico, tratamento impessoal? Nada disso. Os caixas - pasmem! - batem papo com os clientes (a jamaicana que nos atendeu está com planos de ir ao Brasil) e, com o esmero e o cuidado de quem prepara uma mala para viagem, arrumam eles próprios as compras dentro de sacolas de papel. A gente nem toca na mercadoria, só pega a sacola quando o caixa termina de arrumar e vai embora. Inacreditável. Não precisa ser nenhum especialista em gerência nem análise organizacional para se dar conta de que uma só fila bem distribuída em direção a pessoas atentas e prontas no caixa, vale muito mais do que um emaranhado de filas competindo umas com as outras no empurra-empurra e bate-bate dos carrinhos de compra. Não se trata simplesmente de organização e eficiência, tarefas que uma máquina ou um robô são capazes de cumprir: trata-se sim de organização e eficiência aliadas à cordialidade e ao respeito.

Caixa do Trader Joe’s, East Village, NYC

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