Imagens da CNN mostravam, re-mostravam, re-re-monstravam neste fim de semana,
a captura na última sexta-feira do suspeito do atentado em Boston, Djokhar
Tsarnaev. Ante a repetição da
tonitruante passagem dos veículos da polícia, chamou-me a atenção um grupo no meio
da multidão, festejando aos brados, punhos fechados ao alto:
- U.S.A!...U.S.A!...U.S.A!...U.S.A!...
É isso mesmo?
Freud explica, ou pelo
menos, dá uma pista para se tentar entender tal insensatez.
É sempre um elemento
exterior ao conjunto que dá consistência ao conjunto, permitindo a formação de uma
identidade. Quanto maior for a rejeição do grupo em relação a um elemento de fora - seja ele o vizinho, o estrangeiro, o inimigo, o criminoso
- maior é o sentimento de estar incluído num grupo e, claro, se achar superior
aos que dele não fazem parte.
No episódio em questão, a
caça de um (suspeito) criminoso é o bastante para suscitar irracionalmente o
fortalecimento dos laços identitários nacionais entre os que se imaginam “idênticos”.
Curiosamente, embora os U.S.A seja um país multicultural, o rapaz capturado não
tem um nome, digamos, muito americano.
Em tempos de crise então,
apontar o dedo para fora é uma recorrente estratégia imaginária que desvia o
olhar de si próprio e finge curar as feridas que estão dentro. Ninguém duvida
de sua eficácia.
A questão é saber por quanto
tempo e ao sacrifício do quê e de quem.
Aliás, a História já se cansou em
mostrar.
E em sangrar.
O quanto não se faz pra afirmar uma identidade, seja no real ou no imaginário! Identidade construída sobre a falta, mas também que causa falta. No caso dos americanos, algumas vezes de bom senso. Inimigo identificado serve pra identificar o amigo ou para criar um sentido?
ResponderExcluirTalita Ramos
Primeiro matar um "inimigo" depois capturar o outro "inimigo" que é acusado por "usar armas de destruição em massa contra civis" em 1 dia e meio, para os EUA só serve pra reforçar quem eles são. Aqui no Brasil o país inteiro seria preso por "usar armas de destruição em massa contra civis", ou talvez ninguém seja civil suficiente pra poder acusar os "inimigos". A questão é que a nossa "segurança", seja a SWAT ou o BOPE, só funciona quando tem um objetivo político.E nada mais político que se mostrar isento da própria falta!
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