Mais forte do que a chuva, o frio, a neve, o vento, a Jornada da Juventude, o Papa:
o gozo. Realmente não dá trégua. Entra estação, sai estação, ele ali, intrépido, imperativo, hiperativo.
Criaturas passam o ano inteiro reclamando do "calor infernal"
carioca. Amaldiçoam-no, clamam socorro!, praguejam contra os trópicos, o sol
escaldante, invejam os nórdicos, idolatram o paraíso alpino: ah, isto sim é
viver! Daí chega o inverno - inverno, ouviram? - e como que
cedendo aos queixumes sudorosos, o termômetro baixa, radicaliza, resolve dar a louca, desaba, vai
até menos zero.
Mas cadê que o gozo baixa? Que nada! Ele vem sempre mais, e mais, e mais...
Mas cadê que o gozo baixa? Que nada! Ele vem sempre mais, e mais, e mais...
Gozo é excesso, abscesso, obsesso, não há temperatura nem queixa que
deem conta: gozar é coisa do além...
E lá (re)desaguam as criaturas a gozar numa intempérie sem fim, não
do guarda-chuva, do cobertor, do pulôver, da luva e do gorro ao alcance da mão, e sim da queixa
gozosa, esta, cuja satisfação é fora de alcance. E sem redenção: não tem “olhai por nós”.
A propósito, para que serve mesmo uma análise?
A propósito, para que serve mesmo uma análise?
Voilà.
ResponderExcluirLa jouissance est comme ça.
Sans arrêt et sans pourquoi.
"Là où ça parle, ça jouit, et ça sait rien (...) l’inconscient, c’est que l’être, en parlant, jouisse, et,j’ajoute, ne veuille rien en savoir de plus. J’ajoute que cela veut dire – ne rien savoir du tout"
Excluir(Lacan)
Boa questão, afinal se o desejo é intrinsecamente insatisfeito, o que seria de nós se alcançássemos a plenitude? Este algo a mais que não fecha nos mobiliza, e talvez seja essa a serventia de uma análise, podermos transformar a insatisfação manifesta através de intermináveis queixas em uma impossibilidade que nos move. Então, poderemos render graças ao gozo!
ResponderExcluirUma análise, penso eu, serve para sairmos da posição, e termos, "talqualmente" os antropólogos,uma visão distanciada, uma visão com estranhamento, para assim tentar conhecer e classificar.
ResponderExcluirAgora o gozo. O gozo? Eu não penso. Sinto.