Uma amiga de infância, leitora assídua do Diário, escreveu indignada.
“Acho
engraçado, diz ela, as pessoas que escrevem aqui - Não sou católico mas admiro
muito o Papa Francisco - quase pedindo desculpas, como se fosse uma deferência,
um favor. Será que é preciso ser budista para
admirar o Dali Lama, Hindu pra admirar Gandhi? Espírita para gostar do Chico
Xavier? Fluminense para admirar um gol bonito do Fred?"
Colocação muito interessante. A primeira coisa que me veio à cabeça foi
o seguinte:
"Não sou católico mas admiro muito o Papa Francisco". Leia-se:
ao mirar, ad-mirar o que não pertence a mim, não estou deixando de ser EU não,
viu?
Crença na identidade, pura ilusão. Como se apartar-se do outro,
excluir, dividir fosse a garantia de ser. Apartar-SER. Excluir-SER. Dividir-SER.
Ora, SER não é justamente a própria miragem de pertencer a si, de ser si
mesmo, provocada pela divisão que já SO/MOS e que nos coloca sempre a distância
de S/I? Ser não é uma relação de distância em relação ao outro. Ser é a imagem às avessas da distância em relação a si, da distân(s-i)a inerente a cada um.
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