Gustav Vigeland |
Quando eu era menino, uma mulher parecida com homem ou o
contrário: tá na cara, é travesti! Hoje, uma mulher parecida com homem ou o
contrário: nem sempre tá na cara, mas é mulher!
Dia internacional da mulher? Nada contra, mas com todo
respeito, não vejo sentido nenhum. Com um agravante: corre-se o risco de
fortalecer categorizações de gênero como se se tratassem de um dado bruto, à
maneira da modinha para Gabriela, de Caymmi - "eu nasci assim, eu cresci
assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim".
Dia internacional do homem? Mesma coisa.
Deste ou daquele transgênero? Mesma coisa.
Quando é que a gente vai se dar conta, de uma vez por todas,
que cada um de nós, no que tange ao gênero, não é cria da natureza, mas uma
criação absolutamente singular de si a partir de nossa própria (des)natureza?
Freud, no alvorecer do século XX, torna clara a disjunção
entre sexo e sexualidade. Beauvoir, mais tarde, na frente fenomenológica contra
o determinismo, levanta a bandeira de uma feminilidade livre: não se nasce
mulher, torna-se. Lacan, de forma radical, nos livra todos, homens e mulheres,
das amarras biologizantes: o que determina não é o sexo, mas a posição
subjetiva. Não se nasce nada, ocupa-se um lugar.
Homem/mulher/travesti/transexual/ e o que mais vier: estando ou não na cara, há algo a ser pensado na atual (re)criação de gêneros. O que nada tem a ver - absolutamente nada - com a diferenciação natural macho/fêmea inscrita nos cadastros das maternidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário