23 de junho de 2013

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Espanto




Coisa chata, para não dizer outra coisa, é a gente perguntar para o amigo que encontra na esquina:

 - E aí... a Passeata?

Daí a criatura começa a dar explicação de tudo, porque sabe de tudo, porque já viu tudo, porque em 64, porque no impeachement do Collor, porque a inflação, porque a classe média, porque quando o sapato aperta, porque, porque, e por que.

Daí a gente se despede, vai embora, cheio de porque, vazio de por que. Por quê?

Porque por que nenhum dá conta do que está acontecendo agora no Brasil. De verdade. É novo, absolutamente novo. Não me venham dizer que alguém sabe HOJE que novidade é essa. Doutor, jornalista, cientista político, prefeito, governador, deputado, senador, Presidente da República, amigo, bate-papo de botequim, eu, você que me lê, ninguém sabe. Ninguém. Pois saber é sempre obra do depois.

O novo chega sempre antes da hora. Se chegar na hora, não é novo, é planejamento. O novo pega a gente assim, desprevenido, desavisado, sem esperar, como um grão de feijão que cai no canto da parede da sala e um dia nasce um broto verdinho. A botânica explica? Claro, o mecanismo, não a novidade. Novidade no estado puro desconhece porquê. Quando se sabe o porquê, o novo deixa de ser novidade, torna-se produto, algo deglutido, incorporado.


De todos os lados porquês tentam abocanhar o novo que está acontecendo no Brasil. A fome de porquês é tanta que parece que até que as outras fomes nunca existiram antes. Ora, ora! Estão a doer há décadas, séculos, não é novidade para ninguém. Ou é? Vamos ouvir as vozes das ruas...convidar os representantes dos manifestantes... precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente...blá-blá-blá. 

Isso é novo? Faz-me rir, rá-rá-rá...
 
O novo, hoje, é que as fomes não querem mais saber de cinismo, promessas, favores, muito menos porquês. Elas querem gritar, fazerem-se ouvir, custe o que custar. Não adianta querer calar, nem à base de porrete: já se sofreu demais das fomes, é tudo ou nada. 

Novo, novo, novo. 

A única coisa que temos verdadeiramente em comum com o novo é o espanto.

Faz dias que eu ando assim: hã??!!!

Um comentário:

  1. Marcella Carvalho Claudio, perfeito , me sinto acolhida neste seu comentario, pois achava que só eu estava vendo que isto que está ai é de tamanha grandeza e novidade que está deixando todos de boca, literalmente, aberta e gerando muito medo.....Tentar encaixar conceitos arcaicos nao vale de nada..nao ha lideres, nao há bodes expiatorios, tentam confundir e nao conseguem, tentam pegar e escapa... Pura "era de aquarius" batendo a porta.. Rede! Onde cada elo reflete o brilho de todos os outros elos, a rede de Indra... Inquebrável ..transformadora, nos mostra que estamos diante do descortinar de algo transcendente... Sem esquerdas ou direitas, mas alem, profundo, consciencial.. Estes jovens trazem isso, a consciencia a lhes guiar...nao precisam de salvadores, de guias, de papas, nem de gurus... Sua consciecia é seu guia... O que vi na passeata aqui foi isso... Nunca se falou tanto numa cidadania pura, limpa, fresca como agora...por enquanto vamos aguardar ... E nao temer..porque o novo sempre vem...tb estou hã????? Me explica..Mas feliz, sentindo q o momento é historico... E fazemos parte dele..afinal nascemos numa cidade que tb tem seu Champs Elysee... Nao pode ser a toa...

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