14 de outubro de 2013

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O funkeiro da Parada



Parada LGTB Rio 2013, Praia de Copacabana

Muito assertiva, para não dizer brilhante, a intervenção do locutor do carro do Funk durante a PARADA LGBT RIO 2013, ontem em Copacabana. Quando um punhado de baderneiros tentou botar o terror no meio da multidão que dançava na maior alegria e paz, ele lançou mão do microfone, mandou cortar o som e soltou o vozeirão: 

 - Polícia Militar, Polícia Militar! Atenção! Atenção! Aqui do lado direito do carro 10, bem na frente, tem gente que não tem nada a ver com a gente e que está buscando briga! Polícia Militar! Polícia Militar! Lado direito do carro 10, bem na frente!  Gente, aqui não é lugar de briga, é lugar do amor! Quem não estiver de acordo, vá embora! A gente gosta de funk, não gosta de briga! Vamos apontar para quem está brigando! Vamos apontar para quem está brigando! Vamos mostrar para a Polícia! Aqui não é lugar para brigar! É lugar do amor! Quem não estiver de acordo, eu repito, vá embora!  Gente, não interessa se você é gay, lésbica, transexual, travesti, heterossexual, bissexual! Vamos beijar na boca! 

O locutor funkeiro acertou em cheio. Primeiro, chamou a quem de direito - Polícia Militar, Polícia Militar! - à responsabilidade que é sua, e não dos organizadores da Parada, os quais, diga-se de passagem, realizaram este ano a mais bonita e espetacular manifestação LGBT jamais vista no Rio.

Em segundo lugar, demarcou com firmeza e nitidez o lugar dos arruaceiros - lado direito do carro 10, bem na frente! Vamos apontar para quem está brigando! Vamos mostrar para a Polícia! Aqui não é lugar para briga! - evitando não somente que o terror se alastrasse, como também que se confundisse os funkeiros (os quais, mais uma vez, requebravam alegremente na maior paz), com o punhado de baderneiros infiltrados. 

Por fim, não se intimidou em dar, de forma elegante, irreverente - e por que não dizer, reflexiva? - uma definição de LGBT que rompe com os clichês estereotipados: É lugar do amor! Quem não estiver de acordo, eu repito, vá embora! Gente, não interessa se você é gay, lésbica, transexual, travesti, heterossexual, bissexual, vamos beijar na boca! 

É isso aí: Quem não estiver de acordo, eu repito, vá embora! Como bem disse uma professora de psicanálise a respeito dos queixumes e censuras que, a exemplo de Dora paciente de Freud, insistentemente endereçamos ao outro: “é só sair de cena”.  

Um verdadeiro exemplo de festa, cidadania e civilidade. Parabéns ao locutor funkeiro: do alto do carro 10, assumiu geral o controle da Parada. No batidão carioca.

7 comentários:

  1. O dia que o mundo (as pessoas) entenderem que só o amor transforma tudo, as coisas serão, deveras, diferente. Me lembro de minha adolescência, num bairro periférico da cidade de São Gonçalo, onde o clamor que se ouvia era em forma de Funk: "Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci e poder me orgulhar e ter a consciência que o pobre tem seu lugar". Será que o clamor do funkeiro da Parada difere tanto dos Funkeiros do bairro em que morava? Pode até ser que sim... motivações diferentes, né?
    Diferentes é uma ova...
    AMOR, PAZ, FELICIDADE, ORGULHO DE SER O QUE SE É.
    É disso que o mundo precisa, é disso que o Funk(eiro) falava. Aquele do passado e esse, do presente. Plagiando o meu amigo, autor do texto: "Um verdadeiro exemplo de festa, cidadania e civilidade"... quem não estiver de acordo "é só sair de cena".

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    1. Caro Leandro
      Posicionamentos firmes, sem reservas, que ao invès de excluir e excluir-se, incluem e incluem-se no mundo: acredito ser este o motor de todas as transformações realmente substanciais, dentro e fora. E, como você bem diz, é disso que o mundo precisa.
      Obrigado por acompanhar o Diário externando suas posições.
      Abraço

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  2. Adorei o texto! Parabéns pela percepção e análise.
    Dizer quem sai significa muito. Dentro desse "muito" está a capacidade de ir além de dizer que não se quer, mas dizer afinal que não há mais espaço ali para aquilo ou aquele que não se quer. Tirar. Brabo...Quisera ser simples chamar a PM e pedi-la para retirar os falsos sujeitos nos quais enrolamos com nós os nossos pés. Esses nós só a análise pra desenrolar e sem garantia de que não haverá queda. Pra quem insiste em não sair, ou pra quem não tem coragem ou vontade de retirar, tem sempre o ultimo chamado do locutor: vamos beijar na boca. ;)
    Talita Ramos

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    1. Talita querida
      É exatamente isso o que está sempre em jogo em nossa existência, e particularmente, numa análise: o "entrar" e "sair de cena", nossa implicação em nossos próprios "nós".
      Obrigado por acompanhar (sempre) o Diário, implicando-nos todos nos seus devaneios!

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  3. ARRASOU! Para quem duvida que haja vida inteligente no planeta Funk... Adorei!

    Divulguei.

    Sergio Viula

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    1. Caríssimo Viula
      Sempre um prazer contar com um leitor entusiasmado como você!
      Obrigado por fielmente acompanhar e compartilhar o Diário.
      Abraço

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    2. É semrpe um prazer passar por aqui.

      Abração, querido.
      Viula

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