Uma amiga insurgiu-se hoje, indignada, contra a
notícia de que o pastor Marco Feliciano, do PSC de São Paulo, está cotadíssimo
para presidir a comissão de direitos humanos da Câmara. Ela lembra que o tal
pastor, eu cito, "é o mesmo que diz que o Brasil é um país laico mas não
ateu, que cita feministas como mulheres de sexualidade distorcida e que defende
a ideia de que o casamento gay é a porta de entrada para o caos". A
notícia pareceu-lhe tão absurda que, desde então, está a se beliscar. E há
de quê.
Quero crer que, pelo menos num ponto, houve um engano.
Pastores são seres humanos, falíveis como o próprio Papa. Certamente o ilustre
pastor mui douto em sexualidade - aliás, religiosos em geral tem se mostrado como nunca impressionantemente desenvoltos e práticos neste assunto - deve ter
trocado alhos por bugalhos. Quando Marco Feliciano, a respeito do casamento
gay, disse "caos", provavelmente cometeu um lapso. Freud explica.
O que certamente o pastor quis dizer - ele que traz a
felicidade no sobrenome - não foi "caos", mas sim Kairos, filho mitológico de Cronos (o tempo) e que em grego significa "o melhor momento", "oportunidade certa". Portanto, nada de alarde,
nem beliscões, pelo menos em relação a casamento gay. O pastor está certíssimo: o momento atual é mais do que oportuno.
Minha aliança que o diga: está tinindo no dedo. Ah... que Kairos mais feliz!
Mas nem tudo são flores. Quanto a Marco Feliciano estar cotadíssimo para presidir a comissão de
direitos humanos da câmara, junto-me à minha amiga: alguém me belisca?
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ResponderExcluirEu voto por criarmos um dia nacional do beliscão. Afinal, o que não falta é motivo n política brasileira para se beliscar. E se morder. Porque o pesadelo por vezes nos prende na repetição de políticas públicas discriminatórias e autoritárias que parece não ter fim. Acorda Brasil! Parabéns pelo ótimo texto. E pelo otimismo sem fim.
ResponderExcluirTalita Ramos
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ResponderExcluirTalita Ramos
ResponderExcluirEntre um beliscão e outro, temos o dever como seres pensantes - o que dirá como filósofos - de nos mobilizar contra quaisquer dogmatismos, vindo de quem for. Em se tratando de canalhas então, é preciso não medir forças tampouco palavras.
Filosofia, como faço questão de dizer e re-dizer, não é erudição, é ação. Quem fica trancafiado nas torres universitárias discutindo teorias, alimentando-se de conceitos, trai o sentido original de filosofia, qual seja, o de filosof-ação! É o que procuro fazer em meu trabalho quotidiano.
Obrigado por acompanhar o Diário e agir!
"O melhor momento"! Vamos nos mobilizar! Porém, quando li sobre o assunto indaguei sobre o motivo que levou este Deputado a ser o mais cotado. Direitos Humanos?...As justificativas não me agradaram. Fiquei preocupado com o rumo que isto possa tomar...e o problema é que estas pessoas não beliscam para mostrar uma "verdade UNIVERSAL" eles matam para sustenta-la...
ResponderExcluirtem alguem da assembleia de Deus contra feliciano
Excluiracho que nao?
Caro Leonardo
ResponderExcluirÉ de fato preocupante, muito preocupante.
Em relação ao seu questionamento propriamente dito, penso ser o medo o que faz com que pessoas dogmáticas, a exemplo do pastor Marco Feliciano, catalizem a fé e o voto alheios. O medo do Outro - lacanianamente falando, medo do gozo do Outro - serve assim de alimento a toda espécie de segregação e crueldade. Não é à toa que as religiões em geral, que utilizam-se do temor como instrumento de doutrinação, melhor dizendo, de dominação, tenham em grande parte protagonizado, sempre aliadas ao poder político e em nome de uma "verdade universal", os mais cruéis episódios da História.
Obrigado por acompanhar e participar do Diário.
Deverá existir uma Comissão Contra os Direitos Humanos em algum lugar por aí, pois é lá e é ela que esse senhor, Deputado Marco Feliciano deveria estar e dirigir. E, com um pouco de sorte, quem sabe desaparecer, ou, ser esquecido ao menos. Parece brincadeira de mau gosto, alguém tão preconceituoso e de mentalidade tão tacanha, presidir uma comissão de direitos humanos! Magda Castro
ResponderExcluirA liberdade de expressão é a liberdade até mesmo para bobagens. A liberdade só é real quando boçais podem expor suas crenças. A doutrina do livre-arbítrio mostra que Deus leva muito a sério a liberdade. Se as pessoas falassem somente aquilo que apreciamos, logo seríamos tiranos de um mundo uniforme. Se hoje calam o Feliciano (mesmo pela sua boçalidade) amanhã poderá ser você e eu, pois sempre existirá um grupo contrário aos nossos pensamentos. Se você acha que ele merece ser silenciado não ouse reclamar pela liberdade, pois o seu conceito de liberdade é o próprio ego. Assim como, também, não podemos calar o outro lado. Aliás, nada mais autoritário do que uma militância - Alexandre
ResponderExcluirCaro Alexandre
ResponderExcluirSua objeção segundo a qual "a liberdade de expressão é liberdade até mesmo para bobagens" deve ser levada muito a sério.
De fato, uma sociedade democrática, tal como os gregos a conceberam, é baseada em dois pilares fundamentais, a isonomia e a isogoria, isto é, igualdade de leis e de expressão para todos os cidadãos.
Dito isso, uma reflexão se impõe: um homofóbico, um racista, por exemplo, têm o direito de se expressar? Bem diz o ditado: “a liberdade de cada um termina quando começa a do outro”. Há portanto que se fazer a diferença entre o que você chama de "bobagens", as quais se restringem ao campo da simples opinião, e o que o Pastor Marco Feliciano, com sua boçalidade notoriamente reconhecida, intenta fazer: aniquilar da liberdade alheia. Para assassinos da liberdade, dizia um professor meu de Filosofia, nada de liberdade.
Agradecemos por acompanhar o Diário.