Antes
de fazer análise, a gente é aquele que ama ou
odeia, a gente é isso ou aquilo.
Quando se começa uma análise, a gente se descobre como aquele que ama e odeia, como isso e aquilo. Como sustentar tal contradição?
Do ponto de vista da razão e da lógica, obviamente, não dá. Pois os dois princípios lógicos fundamentais, inaugurados pelo filósofo Parmênides, são o princípio de identidade e o de não contradição. De maneira simples: o primeiro diz "o ser é", o segundo, "se o ser é, seu contrário (o não ser) não é". A identidade desconhece negação, diferença, movimento, tempo, mudança: tudo isso contraria a própria noção de identidade. Se eu sou o que sou, ou o que penso ser (o que equivaleria à verdade do meu ser), o contrário do que sou ou do que penso ser é necessariamente falso. Tal perspectiva lógica levou outro filósofo, Descartes, séculos e séculos mais tarde, a enunciar uma das, se não a mais conhecida das máximas filosóficas, espécie de florão do racionalismo: “penso logo existo”. Foi preciso Freud e a psicanálise para sustentar a contradição à contracorrente da lógica e da identidade: é justamente onde não há lógica que está a verdade do sujeito. “Penso onde não sou, logo sou onde não penso”, subverte Lacan.
A psicanálise trabalha com o que justamente escapa ao sentido, com a falta de sentido, com o que não se fecha. Uma análise é feita para provocar a divisão na gente: é o que Lacan chama de sujeito dividido, “sujeito barrado” (simbolizado por Lacan como $: a “barra” sobre o “S” designa a falta de unidade, nossa divisão). A divisão que ela provoca é a porta de entrada para a verdade que nos é mais própria, e que no entanto nós desconhecemos, uma vez que é inconsciente e totalmente ilógica. A verdade analítica é da ordem de uma lógica ilógica.
O dilema que a gente enfrenta numa análise não é ser ou não ser, é ser e não ser. Eis a questão.
Hamlet no divã.
Do ponto de vista da razão e da lógica, obviamente, não dá. Pois os dois princípios lógicos fundamentais, inaugurados pelo filósofo Parmênides, são o princípio de identidade e o de não contradição. De maneira simples: o primeiro diz "o ser é", o segundo, "se o ser é, seu contrário (o não ser) não é". A identidade desconhece negação, diferença, movimento, tempo, mudança: tudo isso contraria a própria noção de identidade. Se eu sou o que sou, ou o que penso ser (o que equivaleria à verdade do meu ser), o contrário do que sou ou do que penso ser é necessariamente falso. Tal perspectiva lógica levou outro filósofo, Descartes, séculos e séculos mais tarde, a enunciar uma das, se não a mais conhecida das máximas filosóficas, espécie de florão do racionalismo: “penso logo existo”. Foi preciso Freud e a psicanálise para sustentar a contradição à contracorrente da lógica e da identidade: é justamente onde não há lógica que está a verdade do sujeito. “Penso onde não sou, logo sou onde não penso”, subverte Lacan.
A psicanálise trabalha com o que justamente escapa ao sentido, com a falta de sentido, com o que não se fecha. Uma análise é feita para provocar a divisão na gente: é o que Lacan chama de sujeito dividido, “sujeito barrado” (simbolizado por Lacan como $: a “barra” sobre o “S” designa a falta de unidade, nossa divisão). A divisão que ela provoca é a porta de entrada para a verdade que nos é mais própria, e que no entanto nós desconhecemos, uma vez que é inconsciente e totalmente ilógica. A verdade analítica é da ordem de uma lógica ilógica.
O dilema que a gente enfrenta numa análise não é ser ou não ser, é ser e não ser. Eis a questão.
Hamlet no divã.
Brilhante!
ResponderExcluirAbraço, amigão.
Sergio Viula
Lembrei de Melanie Klein e as posições esquizo-paranóides (OU) e depressiva (E).
ResponderExcluirAna Scheer.
Lógica ilógica que fascina, justamente por ser enigmática, não é mesmo?
ResponderExcluirClaudio, parabéns pelo texto, rico e claro, muito bom!
Abç.
Ana Cristina.
Para ser grande, sê inteiro: nada
ResponderExcluirTeu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Ricardo Reis, 14-2-1933
Acho que O Fernando Pessoa e seus heterônimos já falavam disso tbm né?
Bjs querido!