Todo mundo sabe, ao menos
desconfia: quem vê cara não vê coração.
Mas que o novo papa tem uma
cara mais simpática do que o antecessor, lá isso tem. Está certo que para bater
o Ratzinger não precisa sorrir muito. Mas o novo papa, embora argentino, sorri
com naturalidade, nada macambúzio. A bochecha caída ajuda, dá-lhe um certo ar
bonachão. Parece gostar de uma boa carne (sem trocadilho), um bom vinho (já
imaginaram a adega do Vaticano?), os prazeres simples da vida, com comedimento, é claro: papauté oblige. A escolha do nome Francisco faz a gente esperar
ou imaginar que o papa seja mais voltado para o sol, a lua, os animais, do que
para as pompas e improbidades vaticanais. Sonhar não custa nada.
Mas a maré do Vaticano não
está para peixe, não é segredo para ninguém, um salve-se quem puder. Foram
tantos os vazamentos que, se a Igreja não se aprumar com urgência, o mar pode
virar sertão. A surpreendente ligeireza dos cardeais em soltar a fumacinha
branca sobre o Vaticano parece ser, ante a gravidade dos assuntos sórdidos e espúrios que grassam, um indício clerical de que não há tempo a perder. Há, sim, que se arregaçar as
mangas e enfrentar a tormenta. Mas até nisso o papa tem na cara, digamos assim,
uma vantagem: as orelhas já vem de pé.
A cara do papa está aí.
Agora é esperar para ver se, na contramão do provérbio, quem vê cara vê
coração. Um coração de verdade. Simples e generoso como o de Cristo e Francisco
de Assis. Um coração concreto, não imaterial. O coração de um Humano, não de
uma Autoridade. Um coração que não erige humildade e tolerância em simples
formas vazias de retórica celestial, mas ao contrário, despe-se das vestimentas
do dogma, pisa com os pés bem no chão e põe-se a dialogar sem armadura com as
criaturas terrestres, reconhecendo a essencialidade das diferenças e, acima de
tudo, regozijando-se com elas. Não é isso o que fizeram Cristo e Francisco de
Assis?
É isso que se espera de
qualquer ser humano digno desse nome. É isso que se chama de amor e sabedoria.
Os gregos, muito antes de Cristo, inventaram um nome: Φιλοσοφία, filosofia.
Já vimos a cara do papa.
Agora, é hora do papa dar a sua cara à tapa. Vamos lá Francisco! A cara e a vez
são suas! Nossos olhos estão todos voltados para você, mas nunca se esqueça: nossos
olhos serão sempre nossos.
Coisas como o modo como ele se refere às mulheres já me deixam pessimista a respeito do novo Maradona do Vaticano: http://www.facebook.com/photo.php?fbid=538998592806884&set=a.202046699835410.50135.201067729933307&type=1&theater
ResponderExcluirMas tudo pode acontecer. Vamos esperar para ver. Quem imaginava que Ratzinger largaria o osso? ;)
Abração, querido.
Sergio Viula
Sinto não poder dizer o mesmo, Claudio, a não ser quanto à cara do Rato, ops, Ratingzer.
ResponderExcluirEste papa tem um passado obscuro e há fotos que o comprometem seriamente com a sanguinária ditadura argentina.
Como nada neste mundo escapa à política, e esta, por sua vez, pouco se preocupa com os interesses reais dos povos, creio que toda a "singeleza" deste Francisco vem a calhar num momento do mundo - inclusive da América Latina - extremamente conturbado, procurando mostrar um papa magnânimo e sensível às dores do povo..
Que abra os cofres do Vaticano, que investigue a sério os casos de pedofilia, de desvio de dinheiro no antro fechado que é aquele Estado.
Continuo achando que a Igreja não alterou em nada seus preconceitos, e essa presepada, mistura de circo e quartel que se tornou nossa cidade, não passa de mais uma medida emergencial para correr atrás do "público" perdido.
A propósito', quanto á enorme possibilidade de manifestações durante sua visita ao Brasil, espero de coração que ele seja um Papa mais pra "POP" do que pra "BOPE".
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