10 de março de 2013

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(Re)criação de gêneros

Gustav Vigeland, Frognerparken, Oslo

Quando eu era menino, uma mulher parecida com homem, ou o contrário: tá na cara, é travesti! 
Hoje, uma mulher parecida com homem, ou o contrário: nem sempre tá na cara, mas é mulher!  

Dia internacional da mulher?  
Nada contra, mas com todo respeito, não vejo sentido nenhum. Com um agravante: corre-se o risco de fortalecer categorizações de gênero como se se tratassem de um dado bruto, à maneira da modinha para Gabriela, de Caymmi - "eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim".
Dia internacional do homem? Mesma coisa.  
Deste ou daquele transgênero? Mesma coisa.

Quando é que a gente vai se dar conta, de uma vez por todas, que cada um de nós, no que tange ao gênero, não é cria da natureza, mas uma criação absolutamente singular de si a partir de nossa própria (des)natureza?

Freud, no alvorecer do século XX, torna clara a disjunção entre sexo e sexualidade. Beauvoir, mais tarde, na frente fenomenológica contra o determinismo, levanta a bandeira de uma feminilidade livre: não se nasce mulher, torna-se. Lacan, de forma radical, nos livra todos, homens e mulheres, das amarras biologizantes: o que determina não é o sexo, mas a posição subjetiva. Não se nasce nada, ocupa-se um lugar. 

Homem/mulher/travesti/transexual/ e o que mais vier: estando ou não na cara, há algo a ser pensado na atual (re)criação de gêneros. O que nada tem a ver - absolutamente nada - com a diferenciação natural macho/fêmea inscrita nos cadastros das maternidades.

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