7 de novembro de 2013

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A cor da chuva




O Rio hoje, um certo ar de Paris. 

Chuva, luz fosca, escorrer melancólico das horas refletidas no asfalto, fachadas sombrias, mudas, janelas fechadas. Até a montanha que vejo do meu escritório, sempre verdejante, hoje parece diluir-se nas gotas dançantes da vidraça. O Rio descobre-se cinza, parece estranhá-lo, padece da monocromia e pergunta-se: onde estou, quem sou? Em Paris o cinza é arte, no Rio é estranheza. 

Lembrei de minha senhoria da rue Hermel, uma senhora elegante, sempre nos trinques. Numa tarde chuvosa, atravessávamos o Bois de Boulogne em seu carro quando subitamente me indagou: 

 - Vous avez remarqué que la pluie à Paris est argentée? 

Quase tive um sobressalto: "você já reparou que a chuva de Paris é prateada?" Achei graça com o que para ela parecia óbvio, para mim não. Passei a prestar mais atenção. 

Começou com a prata, naquela tarde em Paris. Desde então, toda vez que chove, abro bem os olhos e me pergunto: que cor tem essa chuva? 

A chuva chove, molha, e eu vivo inventando uma cor para ser só dela. 

A chuva do Rio é maravilha. 

Paris argentum, Rio mirabilis.

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