18 de janeiro de 2014

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O "COUP DE FOUDRE" DO CRISTO



 
(YASUYOSHI CHIBA / AFP)


A imprensa francesa noticiou hoje, sábado 18 de janeiro 2014:

PRIS D'UN COUP DE FOUDRE, LE CHRIST DE RIO S'EN TIRE AVEC UN DOIGT ABIMÉ

A manchete é amplamente meritória e justificada. Afinal, não é todo dia que um raio - coup de foudre - decepa o dedo de alguém, muito menos o de um Cristo, menos ainda o do Cristo Redendor. Céus! 

Mas, sob outro prisma do raio, a manchete tem outra conotação. Lacan, pegando carona no raio da linguística de Saussure e Jakobson, nos ensina: nenhum significante é unívoco, mas equívoco, isto é, pode remeter a qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Isso porque somente dentro e através do contexto é que a significação adquire uma certa densidade num discurso. Ou seja, para além das convenções linguageiras, uma mesma palavra significa algo totalmente singular para um sujeito e não para outro: o valor do significante depende do contexto, das ocorrências onde é empregado por quem fala. É o que faz com que o psicanalista busque - não a compreensão do sentido da palavra em si, uma vez que ela pode remeter a qualquer coisa - mas sim fazer com que o analisando produza texto e contexto. Fazer análise é isto: produzir texto e, sobretudo, contexto.

Voltemos ao coup de foudre do Cristo. Coup de foudre, em português, além de “raio”, é também "amor à primeira vista".

Então, vamos lá: 

TOMADO POR UM AMOR À PRIMEIRA VISTA, O CRISTO DO RIO ESCAPA COM UM DEDO MACHUCADO

O imaginário a todo vapor, a gente fica logo se perguntando quem será o felizardo ou felizarda que tomou de arroubo o coração do Cristo, e de quebra, num gesto de pura paixão, abocanhou seu dedo. E no topo do Corcovado, um apelo sensual a oferecer-lhe a outra face, a outra mão, e tudo o mais que se lhe aprouver:

- Raios me partam, raios me mordam!