30 de novembro de 2012

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Sexualívio!




Sou totalmente a favor da "cura gay", a chamada "terapia reparadora para a homossexualidade". Com uma condição, é óbvio: que seja feita juntamente com a "cura hetero", "terapia reparadora para a heterossexualidade".

Considero essa "dupla-terapia" uma verdadeira libertação e antevejo um futuro alvissareiro para a sexualidade humana. Pois, uma vez todos curados do mal que é ser "homo" ou "hetero", imunes a esses vírus linguísticos, os humanos poderão finalmente viver sua intimidade em paz, longe do paraíso e do inferno, de acordo com a bem-aventurada palavra de Deus.

Não do Deus desses pseudo-religiosos, pérfidos, mal amados, moralistas, vingativos, mercantilistas e inquisidores, mas do Deus de Prévert, que ao surpreender Adão e Eva disse-lhes:

"Continuai, continuai, peço-vos, não vos perturbeis comigo, procedei como se eu não existisse!"

Que sexualívio! Ufa!



29 de novembro de 2012

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A fúria e o furo de Alain Delon






Tudo pronto ontem para o dueto de Alain Delon com a cantora pop Shy’m, no programa de televisão da France 2, Simplement pour un soir. Simplesmente, não apareceu. O motivo? Em vez de um convite comme il faut - escrito INVITATION - Delon recebeu um simples papel em formato de CONVOCATION, com informações práticas: local, horário de gravação, etc. Não gostou, achou falta de politesse, se irritou e declarou solenemente : « On ne convoque pas Alain Delon ! On invite Alain Delon ! ».

É isso mesmo: o par de olhos azuis mais famosos do cinema francês não é para ser convocado, mas sim convidado. Falta de politesse à parte, a fúria e o furo de Delon se resumem, não ao dueto Delon e Shy’m, mas ao dueto dos significantes “convocação" e "convite". Na verdade, o bafafá ocorreu por obra e força do que Lacan chama de "significante". 

Uma análise serve para que a gente ouça a verdade do que é dito por nós: a função exclusiva do analista é a de ouvir e nos fazer ouvir. Isso porque uma palavra, a qual significa aproximadamente a mesma coisa para os falantes de uma mesma língua, na prática analítica significa algo totalmente singular para um sujeito e não para outro. É esse o sentido de "significante" em Lacan: algo que representa cada um de nós, nos identifica.  A frase de Delon dita no divã, propiciaria ao analisando ouvir a significação específica, absolutamente singular, atrelada aos significantes "convocar" e "convidar". A fúria e o furo de Delon indicam que ele não se sente nada representado pelo significante convocation, este não o identifica, muito pelo contrário, o exclui. Por isso, deixou Shy’m e todo mundo a ver navios. 

Afinal, um Delon convocado equivale a qualquer Delon.
Convidado, só um. 

Madonna já profetizou: "Você pode ser um lindo matador... Mas nunca será Alain Delon."

15 de novembro de 2012

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Caverninha das antigas


 
Li uma matéria hoje sobre a relação dos jovens com a internet. Especialistas - ah, os especialistas... - foram convocados para responder a questões do tipo: a partir de quando o uso da internet pode s
er considerado um vício? Internet atrapalha os estudos, impede relacionamentos verdadeiros, substitui o mundo real por um mundo de ilusão?

Não nego que sejam questões pertinentes e interessantes, pelo contrário. Mas o que me chamou mesmo a atenção foi quando um especialista alertou que é preciso estar muito atento a esse “fenômeno novo”, expressão dele.

Vem cá, será que ninguém leu A República? Lá tem uma tal caverninha...