24 de julho de 2013

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Sem "olhai por nós"






Mais forte do que a chuva, o frio, a neve, o vento, a Jornada da Juventude, o Papa: o gozo. Realmente não dá trégua. Entra estação, sai estação, ele ali, intrépido, imperativo, hiperativo.

Criaturas passam o ano inteiro reclamando do "calor infernal" carioca. Amaldiçoam-no, clamam socorro!, praguejam contra os trópicos, o sol escaldante, invejam os nórdicos, idolatram o paraíso alpino: ah, isto sim é viver! Daí chega o inverno - inverno, ouviram? - e como que cedendo aos queixumes sudorosos, o termômetro baixa, radicaliza, resolve dar a louca, desaba, vai até menos zero. 

Mas cadê que o gozo baixa? Que nada! Ele vem sempre mais, e mais, e mais... 
Gozo é excesso, abscesso, obsesso, não há temperatura nem queixa que deem conta: gozar é coisa do além...
 
E lá (re)desaguam as criaturas a gozar numa intempérie sem fim, não do guarda-chuva, do cobertor, do pulôver, da luva e do gorro ao alcance da mão, e sim da queixa gozosa, esta, cuja satisfação é fora de alcance. E sem redenção: não tem “olhai por nós”. 

A propósito, para que serve mesmo uma análise?

4 comentários:

  1. Voilà.
    La jouissance est comme ça.
    Sans arrêt et sans pourquoi.

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    1. "Là où ça parle, ça jouit, et ça sait rien (...) l’inconscient, c’est que l’être, en parlant, jouisse, et,j’ajoute, ne veuille rien en savoir de plus. J’ajoute que cela veut dire – ne rien savoir du tout"
      (Lacan)

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  2. Boa questão, afinal se o desejo é intrinsecamente insatisfeito, o que seria de nós se alcançássemos a plenitude? Este algo a mais que não fecha nos mobiliza, e talvez seja essa a serventia de uma análise, podermos transformar a insatisfação manifesta através de intermináveis queixas em uma impossibilidade que nos move. Então, poderemos render graças ao gozo!

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  3. Uma análise, penso eu, serve para sairmos da posição, e termos, "talqualmente" os antropólogos,uma visão distanciada, uma visão com estranhamento, para assim tentar conhecer e classificar.
    Agora o gozo. O gozo? Eu não penso. Sinto.

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