17 de agosto de 2013

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O aprendizado de bienvenue

La tendresse, Paul Lancz, Montreal

Bienvenue é a palavra para se desejar boas-vindas em francês. Quando se chega a Paris, logo de cara no aeroporto, a gente se depara com bienvenue nos painéis com a Torre Eiffel, Arco do Triunfo, Notre-Dame, Montmartre, mas depois se esquece ou raramente se lembra dela. Claro, Paris não é a França, e felizmente sempre tem um parisiense acolhedor para nos fazer lembrar que se é bem-vindo. Um, alguns, mas tem. Isso para quem fala francês, quem não fala, bem, vai ser mais difícil, ou muito menos provável, saber o que é bienvenue.

Devo dizer que nesse ponto o Quebec representa uma contribuição muitíssimo importante à língua francesa e, por que não dizer, à própria cultura francesa. Já sei, já sei, Quebec não é a França, assim como Paris também não é. Mas por isso mesmo, o Quebec é uma total originalidade, uma originalité à la française: aqui não tem como a gente não lembrar o tempo todo a palavra e o significado de bienvenue.

Pois é das palavras que a gente mais ouve. A gente diz merci e em troca, ao invés do formal je vous en prie, recebe um bienvenue! Quem fala inglês, claro, não vai achar nada demais, you're welcome é forma usual de polidez. Mas na França, alguém responder a um merci com bienvenue, não é nada bem-vindo. Se sorrir, gargalhar e ainda por cima desejar espontaneamente passez une excellente journée, é mesmo de se estranhar. É preciso vir ao Quebec para saber o que é bienvenue.

O significado, como diz Lacan, não está na palavra, mas no contexto. Qual o contexto de bienvenue do francês no Quebec? Muito simples, pois o contexto é justamente este: simplicidade. No Quebec a gente se dá conta de que a simplicidade é a própria expressão do francês aqui falado: entonação com ar de cidade de interior, cadência tranquila, som nasal, jeito singelo, meio acanhado, sorriso aberto que faz covinha no rosto, olhar tranquilo de quem ouve o outro com paciência e não se irrita em esperar, repetir, explicar, pelo contrário - o québecois é todo bienvenue.

Eu vou além: foi o Quebec que inventou bienvenue. Não a palavra, obviamente, que é francesa. Mas o sentir-se delicadamente bem-vindo que ela provoca na gente, feito um abraço, um beijo, um afago. O Quebec faz isso: bienvenue.

Precisei vir ao Quebec para me sentir mais em casa no francês, e sentir o francês mais a minha casa. E toda vez que ouvir merci quero lembrar de dizer bienvenue.   

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