5 de junho de 2014

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O calvário do psicanalista



Bam-bam-bam dizia que psicanálise não é uma filosofia, uma visão de mundo, uma concepção de vida: é um dispositivo. O analista só é analista no consultório, e o que conta é o que se passa dentro dele.
– O calvário do psicanalista – disse ele – é que as pessoas costumam achar que ele é psicanalista 24h por dia. Uma vez durante um jantar de gala – fez pose de celebridade – tive um gesto desastrado e acabei derramando vinho e sal na minha roupa. Enquanto eu me enxugava, uma senhora sentada ao meu lado indagou: que interpretação o senhor que é psicanalista dá a esse acidente?
Bam-bam-bam fez uma careta bufante, impagável: a turma toda riu. E ante a indagação da conviva, protestou:
– Eu estou todo molhado, cheio de sal e ainda por cima tenho que interpretar! Merde!



Diário de um analisando em Paris, p. 71

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