Bam-bam-bam
dizia que psicanálise não é uma filosofia, uma visão de mundo, uma concepção de
vida: é um dispositivo. O analista só é analista no consultório, e o que conta
é o que se passa dentro dele.
– O calvário do psicanalista – disse ele – é que
as pessoas costumam achar que ele é psicanalista 24h por dia. Uma vez durante
um jantar de gala – fez pose de celebridade – tive um gesto desastrado e acabei
derramando vinho e sal na minha roupa. Enquanto eu me enxugava, uma senhora
sentada ao meu lado indagou: que interpretação o senhor que é psicanalista dá a
esse acidente?
Bam-bam-bam
fez uma careta bufante, impagável: a turma toda riu. E ante a indagação da
conviva, protestou:
– Eu estou
todo molhado, cheio de sal e ainda por cima tenho que interpretar! Merde!
Diário de um analisando em Paris, p. 71
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