Saí da
análise sob chuva fina pedalando contra o vento frio. Passei ao largo do Jardin
du Luxembourg, desci a rue Bonaparte, parei no sinal. Na calçada, aguardando
para atravessar, uma moça de mãos dadas com uma menina loira, cinco aninhos,
não mais. Olhou para mim, sorriu, voltou-se para a menina com afeto, e disse em
português:
– Conhece
aquela bandeira, filha? – apontou para a bandeira do Brasil enrolada no meu
pescoço.
A menina,
botinha, manteau e chapeuzinho, já
bem dentro da forma de criança parisiense, uma adulta em miniatura, olhou para
mim, encabulou-se e não disse nada. – Claro que conhece – fiz graça com ela – é
a bandeira mais linda do mundo!
A pequenina,
mais encabulada ainda, tapou o rosto com os dedinhos e permaneceu calada. A mãe
deu um sorriso de brasileira, cheio de dentes.
O sinal
abriu, saí pedalando rue Bonaparte abaixo até o Sena. No caminho de vento e
chuva fina pensei: a bandeira mais linda do mundo... o que será que a menininha
vai fazer com esse simbólico?"
Diário de um analisando em Paris, p.139.
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